'Com tiranos não combinam brasileiros corações': entenda simbologia por trás do Hino ao Dois de Julho
02/07/2025
(Foto: Reprodução) Independência do Brasil na Bahia é celebrada anualmente no dia 2 de Julho. g1 conversou com mestre em História para entender referências da música escrita por militar. Entenda simbologia por trás do Hino da Independência do Brasil na Bahia
Apesar do famoso "independência ou morte" gritado por Dom Pedro I em 7 de setembro de 1822, foi só nove meses depois, em 1823, que as últimas resistências portuguesas foram expulsas do país pelos baianos. A vitória é celebrada anualmente no dia Dois de Julho, data que marca a Independência do Brasil na Bahia.
O feito dos baianos é narrado no Hino ao Dois de Julho, cuja letra foi composta pelo militar Ladislau dos Santos Titára e musicada por José dos Santos Barreto.
O g1 conversou com o mestre em História pela Universidade Federal da Bahia (Ufba) e professor da Universidade Estadual da Bahia (Uneb), Rodrigo Lopes, sobre as simbologias por trás do Hino ao Dois de Julho. Ele explica que a música enaltece a participação popular na resistência brasileira.
"É um hino muito mais sincero do que o nosso hino oficial, porque ele realemnete descreve o que aconteceu na Bahia. Ele legitima a participação popular, é bonito e deveria ser conhecido em todo Brasil".
Nesta reportagem, você vai entender, estrofe por estrofe, o que é retratado no hino. Confira:
🎵 "Nasce o Sol a dois de julho
Brilha mais que no primeiro
É sinal que neste dia
Até o Sol, até o Sol é brasileiro"
Era madrugada do dia 2 de julho de 1823 quando a esquadra portuguesa fugia pela Baía de Todos-os-Santos em mais de 80 navios. Quando o dia amanheceu, os soteropolitanos viram que as embarcações já estavam distantes no oceano.
Cabocla é levada no inicio do trajeto da Lapinha, em comemoração ao 2 de Julho
Malu Vieira/g1 BA
Ou seja, o sol do 2 de julho brilha mais do que o sol de 1º de julho, porque é o primeiro dia de liberdade dos brasileiros.
"O sol é brasileiro e não baiano, porque a Bahia era o último baluarte português no Brasil. Nossa independência já havia sido proclamada nove meses antes, mas o Brasil não era completamente independente", pontuou o professor.
🎵 "Nunca mais, nunca mais o despotismo
Regerá, regerá nossas ações
Com tiranos não combinam
Brasileiros, brasileiros corações"
De acordo com Rodrigo Lopes, essa estrofe faz referência direta a Inácio Luís Madeira de Melo, militar português que comandou as tropas portuguesas assediadas em Salvador nos combates da Guerra da Independência da Bahia.
O militar foi enviado pela Coroa Portuguesa para ser o comandante das armas no estado. Ele tinha uma carta supostamente escrita pelo rei, mas o material não foi aceito de primeira pelos militares, nem pelos vereadores da Câmara de Salvador.
"Essa carta foi colocada em suspensão por vários motivos: ela não foi apresentada imediatamente e estava em péssimas condições. As autoridades não a aceitaram de imediato e Madeira de Melo se impôs".
Com a ajuda de militares portugueses, Madeira de Melo atacou os soldados brasileiros e a cidade virou um palco de guerra. O "despotismo" e "tirania" citados na letra estão relacionados a esse comportamento.
🎵 "Cresce, ó filho de minh'alma
Para a Pátria defender
O Brasil já tem jurado
Independência, independência ou morrer"
A Bahia não tinha uma quantidade de soldados profissionais suficiente para lidar com as tropas portuguesas. Assim, a população decidiu participar ativamente da luta.
O "filho de minh'alma" é o povo baiano, as pessoas comuns que lutaram pela independência. A resistência era composta por escravizados, senhores de engenho, vaqueiros, pequenos agricultores e mais. No desfile cívico, a imagem da cabocla e do caboclo simbolizam a conexão entre as personalidades históricas e as origens do povo baiano.
"Isso legitima o que aconteceu na Bahia, que é diferente do que aconteceu em qualquer outro lugar do Brasil. Aqui houve uma participação popular maciça", afirmou.
Já o verso "o Brasil já tem jurado", faz referência a Dom Pedro, que já havia proclamado a independência do Brasil nove meses antes, nas margens do Rio Ipiranga. "Independência ou morrer" foram justamente as palavras dele neste momento.
🎵 "Salve, ó rei das campinas
De Cabrito a Pirajá
Nossa pátria, hoje livre
Dos tiranos, dos tiranos não será"
A última estrofe do Hino ao Dois de Julho cita dois locais onde foram travadas batalhas pela independência do Brasil na Bahia: Cabrito e Pirajá, que atualmente são bairros em Salvador.
Segundo o professor, as duas localidades ficavam dentro da Fazenda Campinas, que se estendia do atual bairro da Lapinha até o limite com o município de Simões FIlho — aproximadamente 26 km de extensão. Na região, havia rebanhos de gado, pequenas povoações e uma casa de armas para a fabricação de pólvora.
Uma das batalhas mais famosas aconteceu em Pirajá, quando o cabo Luiz Lopes, conhecido historicamente como Corneteiro Lopes, desobedeceu o comandante das tropas brasileiras e soou a corneta para os oficiais avançarem contra os portugueses.
O verso "nossa pátria hoje livre" reforça a independência do Brasil, já que após o dia 2 de julho de 1823 nenhuma província brasileira permaneceu sob controle por portugueses.
"O Brasil não era independente até a Bahia se tornar independente. Enquanto houvesse uma província controlada por portugueses, Dom Pedro poderia gritar "independência ou morte" mil vezes, mas não seria independente", ressaltou.
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